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movimento respiratório.

Essa cidade, repleta de ladeiras... A falta de espaços planos... Rouba-me o fôlego. Ainda mais em dias quentes, com todo o gás tóxico exalado por escapamentos mal regulados de avenidas onde o tráfego é tão intenso às seis que é mais fácil chegar em casa andando. Mas o andar implica em escalar, e escalar... Ah, como me cansa! São tantas as subidas... São tão íngremes... Eu poderia me recostar em qualquer canto nesse fim de mundo, e apenas ficar rindo da cara dos transeuntes ao passarem ofegantes por mim. Semblante de exaustão, fraqueza nas pernas, falta de oxigenação cerebral, me falta ar nos pulmões... Perna esquerda, perna direita, fraqueza em ambas, bamboleio... Visão ofuscada focando o destino ao longe, o cume, o céu, minha salvação... Meu Deus, como é difícil sair desse buraco! É inútil clamar aos céus, eu sei, não me adianta em nada agora, no meio dessa depressão tão profunda, quem sabe, absoluta. E falo de acidentes geográficos, pois não consigo pensar em psicologia ou espiritualidade com essa escassez de oxigênio percorrendo as vias respiratórias, impedido de passar pelo congestionamento de moléculas de gás carbônico buzinando na hora do rush. O oxigênio deve escalar ladeiras vasculares até o cérebro, eu me canso com sua falta à medida que ele se cansa e desiste de escalar... Desistimos os dois. Perna esquerda, perna direita, fraqueza em ambas, desoxigenação cerebral... Cansado de subir, perco a consciência e caio no cruzamento da Avenida Alveolar com a Bronquíolo. Lá espero alguém para me levar ou para me elevar. Paramédicos e curiosos roubando o oxigênio que preciso, apenas rio, conheço a dificuldade momentânea desse gás em transitar. Ao chegar ao hospital, descubro que o elevador está fora de serviço... É tão árdua toda essa escalada, penso olhando a escada.

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W.E.

depois daquelas vezes todas teve a vez de uma sereia tão pequena para um mar de bolinhas de coca-cola, no sol de uma tarde que parecia manhã. teve leezão antes disso, laço em uma das sete cabeças do VHS, com café bem forte pra enxaguar a boca do gosto de hortelã de ontem. as últimas vezes são às vezes na minha, às vezes nas suas, às vezes com rosa púrpura, com purpurina, mas sem cairo. teve almoço às sextas-feiras, às vezes de gravata, jantar ao amanhecer, às vezes café sem cafeína, sem cinema, sorvete ao sol, às vezes derretido, melancolia à sombra e a música do ano. teve autógrafo na televisão, teve um monte de gente da televisão deitada na cama do andy, sem madonna, e seis vezes em seis meses de pequenos vidros que brilharam no escuro, como monitores de plasma, de água do mar jogada de volta ao mar de volta ao mar de volta ao mar, águas profundas. teve visitas semestrais, algumas vezes menos, algumas vezes mais. algumas vezes era só por telefone, disque m. agora tem vertigem na sala...

delphine.

não sei fazer planos de viagem, mas vou. repleto de expectativa e incertezas, sem bússola, sem hora e local. um anseio imóvel em trilhos sem para onde, receio. você não é só férias, e aonde nunca realmente importou enquanto você estava lá. você foi e voltou sem volta. eu espero, sem desespero, o próximo trem. sem planos ou hora, sem saber se ainda. e se ainda te vir nessa estação, você tão imprevisível com todos os seus planos de incertezas, vagando em um outro vagão, aposto que é somente acaso. talvez improvisaríamos com descaso um breve e imprevisto adeus de verão. você é uma viagem de mais de um verão, sem ida. eu, partido de partidas, vou, mas te espero vagando pelas estações, por todos os verões tão vagos de você. não vou fazer planos de viagem, mas me vou. e quem sabe, em alguma dessas todas estações, poderemos ver le rayon vert submergindo, sem verões, praias ou afogamentos.